segunda-feira, 2 de maio de 2016

Nosso príncipe Rafael


Faltava pouco para o Rafael nascer quando recebemos o diagnóstico de autismo de Felipe. Logo os nossos dias ficaram bem agitados: ora choros de um bebê com cólica, ora gritos de um menino com crises de ansiedade. Visitas ao pediatra pra saber quanto Rafa havia crescido (em tamanho), muitas idas a terapeutas pra ajudar Felipe a crescer (emocionalmente e cognitivamente). Vida de caçula não é fácil: os pais já sabem que seu bebê não vai quebrar e acabam sendo mais flexíveis em termos de atenção. Imagine se os pais também estão precisando, muito, de colo.

Talvez por isso Rafa tenha se tornado um verdadeiro showman: falante, alegre, independente em diversos aspectos e bem chegado aos holofotes. Mas a conta chegou. Ano passado, começamos a notar sua imaturidade emocional.

Com 4 anos, Rafa já falava sobre planetas, dinossauros e hábitos alimentares de animais selvagens, mas se recusava a fazer cocô no vaso - pedia fralda. Era totalmente independente nadando numa piscina funda, mas acordava de hora em hora todas as noites pra pedir mamadeira. Começou a reconhecer as letras e os números, mas chorava feito um bebê se lhe dessem uma bronca. Crescer é difícil mesmo. Ainda mais se seu irmão 5 anos mais velho ainda precisa de tanta ajuda.

Comecei a achar também que o ciúme do Rafa em relação ao Felipe ia além do ciúme normal de irmão. Vira e mexe ele "esquecia" o Felipe ao falar de nossa família. Eu temia a discriminação dentro de casa. Eu temia não estar fazendo um bom trabalho na conscientização do meu próprio filho.

Desde sempre, explicamos pro Rafa os motivos das dificuldades de aprendizagem e comunicação e dos comportamentos "estranhos" do Felipe. E ele aprendeu a explicar quando alguém, por exemplo, pergunta ao Felipe seu nome e fica sem resposta: "Meu irmão precisa de uma ajudinha para falar. Fala seu nome, Felipe! Fe...?". Mas, por mais que parecesse um "doutor" ao falar da deficiência do irmão, talvez no seu coraçãozinho ele não compreendesse tudo como parecia.

Essa história é para falar que os irmãos de uma criança com autismo, ou outra deficiência qualquer, precisam ser olhados com todo o cuidado. Agora estamos trabalhando o amadurecimento do Rafa. Com muita atenção, uma boa dose de afeto e outra de disciplina.

Nos últimos tempos, Rafa está bem carinhoso com o Felipe (no vídeo abaixo, ele quis cantar para acalmar o irmão que estava chorando, nervoso), embora goste mesmo é de mandar nele! Passou a fazer o cocô no vaso, largou a mamadeira e agora dorme a noite toda quase sempre, o que está sendo motivo de muita comemoração. O choro exagerado, bom, ainda estamos trabalhando nisso. Mas ele se gaba mesmo é de seus outros "conhecimentos": saber assoviar, estalar os dedos, dar cambalhotas e saltar bem alto. Esse menininho vai mesmo longe. Voa, Rafa!