quinta-feira, 5 de julho de 2012

Amigos: não poderia existir melhor estimulação para uma criança autista

Sábado passado foi a festa junina da escolinha do Felipe. Eu já havia sido informada de que seu par na quadrilha seria a professora dele, tia Aline. Isso me deixou aliviada, pois eu me preocupava com a altíssima probabilidade de Felipe não querer dançar (ou, pior, como já aconteceu em outras festinhas, ele poderia ter uma crise de pânico, por não entender o que estava acontecendo...). E aí a amiga escolhida para ser sua acompanhante ficaria, coitada, sozinha. Mas meu lindo caipira foi para a fila da quadrilha com um par diferente...
 
Era o Lucas, amiguinho de longa data, desde o tempo em que Felipe tinha mais linguagem. Ainda na fila, ouvi um outro menininho dizer: "Ih, menino com menino?", mas Lucas não deu a menor bola. E começou a dança. Lucas deu o braço para o Felipe e o manteve ali com rédea curta! Mesmo assim, de vez em quando, Felipe tentava escapar... Lucas o buscava e continuava a fazer os passos. Olha o túnel! Os casais param, elevam os braços para cima e, de mãos dadas, cada duplinha vai passando pelo túnel. E lá estava o Lucas mostrando ao Felipe por onde ir. Olha o caracol! Todos de mãos dadas fazem um percurso cheio de curvas. Que complicado para meu principezinho! Sem problemas: o querido Lucas ajudava-o a encontrar o caminho certo.
 
Tem dias que choro, sim, pelas limitações que o autismo impôs ao meu filho, pela perda do futuro idealizado. Mas nesse dia eu chorei de felicidade pela certeza de que o transtorno não tirou de meu filho os amigos que ele fez. Depois eu soube que ninguém pediu para o Lucas ser o par de Felipe. Ele simplesmente se ofereceu. São meninos de apenas 5 anos. Isolda e Marcelo, o filho de vocês vale ouro e nós sentimos muito orgulho por ele fazer parte de nossas vidas.
 
Ah, no início da festa Felipe ganhou um abraço apertado da Olívia e, depois da dança, Nina puxou-o pela mão para dar um passeio (e quando me viu com a máquina fotográfica em punho, logo fez pose ao lado do amigo). Os companheirinhos da turma (tem ainda o Vinícius, a Manuela, o Guilherme e a Bia) de vez em quando vêm me contar, orgulhosos, que Felipe falou a palavrinha tal. E a mediadora do meu príncipe já me disse que quando ele completa uma tarefa, a galerinha bate palmas e comemora seu feito. Não é fofo?
 
Sem nenhuma formação em Son-rise, Floortime, ABA ou qualquer outro método de estimulação de autistas, essa criançada invade o mundinho do Felipe e ajuda-o a se desenvolver tanto quanto os mais conceituados profissionais poderiam fazê-lo. E o único método que elas usam é o da amizade. Querem fazer parte da vida de Felipe sendo ele exatamente como é - sem se preocupar com "como ele deveria ser". Taí uma lição que estou aprendendo. Criar uma criança especial destrói todos os "deveria ser" que nós cultuamos ao longo de nossa vida.
 
Abaixo, o querido Lucas, de chapéu, de braços dados com o príncipe Felipe!