sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma ferida quase cicatrizada


Há um ano, participei da caminhada do Dia Mundial da Conscientização do Autismo pela primeira vez. No 2 de abril de 2012, havia apenas 3 meses que o diagnóstico do Felipe fora fechado, aos 5 anos e 5 meses - Transtorno Desintegrativo da Infância, que integra os Transtornos do Espectro Autista (TEAs) -, apesar da certeza que me acompanhava havia muito tempo de que algo estava errado. Lembro de ter comentado com o Carlos sobre a caminhada que aconteceria e de ele me dizer, enfático: "Vamos lá". Eu titubeei. Não sabia bem o motivo, mas não estava totalmente à vontade em ir ao evento.

Mas lá fomos nós - eu, Carlos, Felipe e o pequeno Rafa, então com 6 meses de idade - para a Praia do Leblon. E, no meio do caminho, encontramos um querido colega de trabalho, que estava lá por acaso, para se exercitar. Carlos cumprimentou-o com a simpatia de sempre e deu uma breve explicação sobre o que fazíamos ali. Eu fiquei muda, paralisada.

Eu não estava envergonhada por ter um filho autista. Estava envergonhada por não ter, nunca, sinalizado para ninguém (exceto os muito íntimos) que havia algo diferente com nosso filho. Quando algum conhecido perguntava "Como está o Felipe?", eu sempre respondia "Bem!". E quando falavam coisas do tipo "Ah, está na fase dos porquês, pergunta tudo, né?", eu ria, dizia "É..." e saía de fininho. Não sabia o que dizer... Deveria começar a desfilar nossas angústias em relação a Felipe? Contar que não, meu filho nunca perguntou o porquê de nada, pois mal podia falar?


Aquela era uma ferida aberta e toda vez que eu decidia enfiar o dedo nela acabava chorando descontroladamente de tanta dor. Mas, depois do diagnóstico, me incomodou muito que amigos e colegas não soubessem o que estava acontecendo. Eu me sentia mentindo para todos.

Poucos dias depois da caminhada, criei este blog. E muita gente quis saber mais sobre o Felipe. Alguns amigos que nunca haviam tido contato com o autismo, passaram a me enviar links de matérias, artigos e pesquisas envolvendo o tema, ou dicas de livros e seminários. Conhecidos e desconhecidos vieram me pedir ou me dar recomendações de médicos e terapeutas. E essa foi a minha terapia. Obrigada por isso.

Nesse 2 de abril que passou, fiz campanha no Facebook para divulgar a data e convidei amigos para irem à caminhada vestidos de azul, a cor que representa o autismo. Com meus dois rapazinhos e meu rapagão super gripados e febris no dia, acabamos chegando no finzinho do evento. Mas a tempo de falar com conhecidos com alegria e tranquilidade por estar ali. Hoje, o autismo é uma ferida quase cicatrizada na minha pele.




Felipe passa o posto de príncipe para o Rafa. Agora, ele se acha o rei da casa!


12 comentários:

  1. As cicatrizes ficam, mas as feridas se fecham. Linda a sua luta pelo bem-estar do seu filho. Vc e a família toda são os alicerces deste belo rapaz. Com este amor que transborda, ele vai conseguir superar tudo isso. Conte comigo para o que precisar, viu? Nem que seja pra jogar conversa fora. bjs mil, copolilo

    ResponderExcluir
  2. Conforta muito ler o seu depoimento,a dor ameniza com o tempo é como uma tempestade ela começa forte e depois passa obrigada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isso, Janete. As preocupações vão existir sempre, é claro. Mas aquela dor que parece que vai nos matar cada vez que pensamos no assunto, ela passa. Um beijo.

      Excluir
  3. Que lindo os dois! acompanho sempre seu blog e hj fiquei feliz em saber noticias desse galã.

    ResponderExcluir
  4. Obrigada! Esses dois são mesmo lindos demais!

    ResponderExcluir
  5. Estou chorando lendo seu texto. De feliz.

    Tenho um filho de 3 anos e desde o dia 02 venho ensaiando escrever um blog. Moro em uma cidade onde não teve caminhada, não teve palestra, não teve cartaz. Não teve nada, não se fala nada sobre o autismo. Jurei para mim mesma que seria o último 02 de abril que Viçosa não pensou/falou/ouviu sobre o autismo. Eu, mãe, vou fazer a diferença aqui. Ano que vem será diferente. Você me fez ver que não estou só. Virei outras vezes. Dá força.

    Acabei de criar um blog e nem sei fazer isso, então joguei no google para ver um formato semelhante. Será que você pode me ajudar?

    Obrigada!

    ResponderExcluir
  6. Cássia, estou emocionada com a sua força e disposição. Vamos trocar informações, conte comigo. Me manda um e-mail que eu te ajudo com o que precisar (não sei se consigo com a parte da criação do blog, eu mesma tive a assessoria de uma amiga para começar, mas eu tento!): lucalaza@gmail.com.br. Beijo grande, Lu.

    ResponderExcluir
  7. Lu, parabens pelo seu blog, e' muito tocante, escrito com muito amor.

    Eu conheco bem a sua dor!

    Por favor, conheca o meu blog e o tratamento que o meu filho esta fazendo, voce pode ajuda-lo e muito.

    Um grande abraco,

    Julie

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Julie, desculpe a demora para responder, não recebi aviso de sua mensagem... :-(
      Coincidentemente, há poucos dias, caí por acaso em seu blog. E naveguei por muito tempo por ele... Mas o tratamento que seu filho faz não é feito aqui no Brasil... Começamos com homeopatia há 20 dias... E comecei a reduzir a medicação (Risperdal)... Não consegui achar seu e-mail na sua página, você pode escrever para meu e-mail? Queria saber mais sobre o Oliver. Obrigada. Um beijo, Lu.

      Excluir